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segunda-feira, 8 de abril de 2013

Profissão de fé

Finalmente decidi quebrar meu silencio...

Apesar de ser super acelerada para muitas coisas acho que para outras eu sou um tanto lenta. Demorei um montao para me manifestar sobre os problemas no PT e agora mais um tempao para falar sobre o que penso e sinto sobre a atual situacao da igreja brasileira
Para comecar, quem sou eu para julgar seres humanos ou para fazer analises conjunturais de profundidade?
Nao sou nada. Sou a titica da galinha ou menos que isso, mas como diz um poema de Fernando Pessoa, “Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo”. Entao eh exatamente isso que sou, e ha outra coisa dentro dessa que sou, que nao mudara.
Eu sou crista. Nao quero rotulos, legandas, subtitulos nem coerencia (visto que pra ser coerente muitas vezes nos tornamos absolutamente hipocritas).
Nao quero carregar o titulo de evangelica, protestante ou crente, porque isso sao termos limitantes e capciosos, ainda mais nos dias de hoje, mas sim, eu sigo crista. E sou uma crista assim, torta, falha, errada e confusa.
Mas porque decidi a essa altura da vida fazer essa “profissao de fe” ?
Porque ver a maneira preconceituosa com o qual os cristaos tem sido tratados, me fez crescer em meus brios. Aticou meu senso de tribo, meu sentimento de irmandade.
Nao que eu nao saiba e nao compreenda perfeitamente as razoes pelas quais temos sido odiados pelo mundo, e o problema nao eh ser odiado, porque a biblia ja havia previsto isso, mas o que muito me entristece eh saber que estamos sendo odiados pelo motivo errado.
Deviamos ser odiados por enfrentar os poderosos desse mundo. Deviamos ser odiados, por proteger as baleias dos baleeiros, por enfrentar os pedofilos e proteger as crancas, deveriamos apanhar da policia nas passeatas por dignidade e justica, deviamos passar frio nas madrugadas por proteger os moradores de rua, os abandonados e os desvalidos. Deviamos estar salvando criancas bruxas, libertando mulheres da violencia domestica, amando desmesuradamente a todos sem distincao.
O mundo esta caindo na cabeca, as pessoa estao morrendo de fome (seja de alimento ou de amor), doencas se espalham, miseria e violencia.
Tanto para fazer, tanto para lutar, mas NOS OS CRISTAOS estamos muito ocupados em sermos os arautos da moral e dos bons costumes.
Nos esquecemos que relacionamento com Deus e’ uma coisa absolutamente pessoal.
Queremos dar pitaco nisso como se fossemos o proprio Espirito Santo (a Biblia nao diz que eh ele que convence?) E tambem nao e’ essa biblia que diz que estamos aqui para sermos servos e nao juizes?
Entao porque diabos (diabos mesmo!) estamos gastando o nosso precioso tempo de pregar o evangelho, de curar, de salvar de levar as boas novas, para ficar questionando as escolhas alheias como se tivessemos algum direito de fazer isso.
Escolhas, sao pessoais. Nada eh mais soberano do que o Livre Arbitrio. Atentem-se para o fato de que o Livre Arbitrio eh uma coisa tao seria, que o proprio Deus TODO PODEROSO nao pode revoga-lo.
E se Deus nao pode interfirir no livre arbitrio dos seus, porque voce acha que pode?
As pessoas tem o direito de escolher time, profissao, partido, religiao. As pessoas tem direito de assumir sua orientacao sexual, sua vertente ideologica, onde vao passar as ferias!
E claro, as pessoas tambem tem o direito de discordar dessas escolhas, o que ela nao tem e’ o direito de dar pitaco, de julgar, de fazer lavagem cerebral. Julgar essas pessoas, deu a elas o direito de nos julgar tambem. E somos bem feios nao somos?
Achamos que nao devemos nos sentar a mesa com os escarnecedores, e elegemos como escarnecedores o gay, a puta (falei palavrao e ai?), o “drogado”... e dai achamos tao bonitinhos ficar em guetinhos cantando musiquinhas e batendo palminhas ritmadas, com nossa piadinhas sem graca e nosso crentes (com circunflexo ne e) de mau gosto. Nao nos preocupamos em tirar da nossa mesa o fofoqueiro, o ladrao, o corrupto, o mentiroso, o ganancioso, o falso profeta, a santa do pau oco...
Gastamos um tempao fazendo discursos vazios. Falando besteira.... eu ja ouvi de um infeliz que a madre Tereza de Calcuta nao ia pro ceu porque era catolica.
Hello!! Se a madre Tereza de Calcuta nao vai pro ceu, voce muito menos!!
E nao me venha com argumentos sobre a salvacao vir pela fe’ e nao pelas obras, porque todo “evangelico” que se preza, ja decorou essa cartilhinha.
A questao e’, se voce eh mesmo servo do Deus altissimo, geracao eleita, sacerdocio escolhido e mais um monte desses jargoes de “crente” que agora estao na moda (seja para o bem ou so por gente que ri de nos), entao me explica porque voce gasta a sua vida olhando a banda passar. Se voce esta tao cheio assim da presenca de Deus, levanda a bundinha da cadeira e vai fazer algo pelo proximo. E definitivamente, fazer algo pelo proximo nao e’ fazer sermao sobre a ma vida que ele escolheu.
Respeite a relacao intima entre Deus e seus filhos. Esteja la a disposicao, haja com compaixao, fale dos planos maravilhosos de Deus pra toda a humanidade e seja um arauto dele lutando contra as verdadeiras iniquidades desse mundo que sao a fome, a miseria, o abandono, a violencia, a pedofilia, os maus tratos a seres humanos e animais, os crimes ambientais...
Faca alguma coisa, meu irmao.
Eu nao sou nada. Ja fiz coisas muito tortas na vida. Nao sou a santa do pau oco, porque nem santa eu nunca disse que sou. Muita gente se decepciona com tipo de crente que eu sou. Implica com a minha cerveja, meu gosto musical, meus amigos bicho grilos e porra loucas. Minhas AMIGAS putas, meus amigos gays. Minha paixao por fadas, minhas puladas de cerca contra a minha propria fe’. Minhas incoerencias (como diz minha amiga Rejane Machado, dentro de mim tem uma puta e uma santa, quando uma se deita a outra levanta). Minha incompreensao quanto a intolerancia religiosa, minha discordancia em nao aceitar aqueles que sao diferentes de nos, e essa mania de esquecer que o legado da lei ja foi substituido pelo da graca ha muito tempo.
Eu nao sou ninguem para falar em nome dos evangelicos, mas esse tal Feliciano muito menos.
E esse Silas Malafaia? E tantos outros mal intencionados e destruir o evangelho com o veneno acido de suas linguas.
Eu sou errada, porra louca contraditoria, briguenta, encrenqueira...mas eu amo gente.
Eu amo gente, eu amo bicho, eu amo arvore, eu amo ate fada que nao existe.
E porque eu amo eu sou de Deus (por isso sereis conhecidos como meus filhos, por amarem  uns aos outros). Isso talvez salve meu dia... (e quica um dia salve a minha alma !).
O amor resgata, e salva, por isso quando vejo homens “ de Deus”  cheios de julgamento e veneno nas suas linguas eu me arrepio ate a alma, porque sei de onde esse tipo de gente vem.
A Intolerancia tem levado o mundo ao caos. A gente que anda mundo afora entende isso numa medida que quem nunca saiu do quarteirao nao consegue entender.
Imaginar que cristaos foram decaptados na indonesia a caminho do culto, ou muculmanos em paises catolicos que sao privados de alimento e vacina, simplesmente porque nao sao cristaos, ou budistas que incendeiam casas muculmanas (sabia disso?) porque nao toleram o islam, ou comunistas que encarceram cristaos, ou gays espancados com lampadas, mulheres mutiladas, trabalhadores espancados.
Tanta coisa pra se fazer e soh faz um exame de consciencia:
Se Jesus estivesse hoje no Brasil, ele estaria fazendo uma cruzada pela moral e os bons costumes? OU estaria la no Congresso Nacional dando chicotada na deputadaiada toda?
Estaria fazendo discursos anti gay ou socorrendo as criancas miseraveis recrutadas pelo trafico de drogas?
O poder seduz ne?
Todo mundo tinha que assistir “O Senhor dos aneis”. O quanto de cristiaismo autentico  ha nos ensinamentos desse livro.
Pelamor! O cara faz chapinha no cabelo! E’ um poco de vaidade e ego!
E fala no meu nome!
NO MEU NOME!
Nao! Nao fale! Voce nao me representa, voce nao representa o povo evangelico! Voce no maximo representa uma pequena parcela das igrejas neo-pentecostais, mas representar o povo de Deus???!!! NUNCAAAAA!
Pronto! Falei! Desopilei meu figado! E se voce, caro leitor, eh daquela turminha que fica bo meu facebook so para fucar meus defeitos, certificar-se do quao mundana e imunda eu sou, pronto! Nao precisa mais elocubrar, correr atras de provas ou buscar meio comprobatorios da minha mundanice.
Ta tudo ai escancarado. Eu sigo amando muculmanos, hindus, hare krishnas, putas, gays, anarquistas, ateus, comunistas, artistas, feministas e revolucionarios.
Nao mudei nada nao.
Tornei-me uma mae de familia com muito orgulho de continuar sendo essa ai que voce sempre considerou a escoria. (esclarecimento ao leitor: minha vida crista nunca foi exatamente um passeio. Ate sair do Brasil e encontrar gente mais esclarecida –e quer saber, muito mas muito espiritual mesmo! – eu comi  o pao que o diabo amassou dentro da igreja evangelica. (mas olha irmao, pode preparar o engov, que se a biblia estiver certa, voce vai ter que me aturar por uma eternidade la no ceu...rs)
Alias, isso nao vao mudar...sou mundana demais pra ser crista e carola demais para ser mundana. (talvez por isso o mundo das fadas me seja tao necessario, nesse mundo aqui, nao tem lugar pra mim nao).
No entanto agora que derrubei o caminhao de melancia na minha relacao com meus irmaos e com a minha igreja (a igreja de Jesus e nao nenhuma denominacao em especial) eu quero ter uma palavrinha com voce que gosta de tratar crente como a escoria da humanidade.
Eu to horrorizada com a quantidade de piadinhas maldosas e de mau gosto, contra cristaos evangelicos que tem circulado pela net hoje em dia. E espalhadas por pessoas esclarecidas, inteligentes, supostamente revolucionarias e batalhadoras ferrenhas pelo direito a diversidade.
Escuta gente, direito a diversidade, eh direito a diversidade.  Nao e’ pra fazer piada sobre “viado”  e tampouco piada com a moca que decidiu casar virgem. Liberdade eh ter direito ao tesao e a virgindade.
Liberdade e’ uma questao de respeito as decisoes, lembra?
Comecei esse texto falando sobre isso. Que diversidade eh essa que nao se permite ser ridicularizada mas que ridiculariza?
Isso eh fazer igual so que ao contrario!
Eu entendo que “ do rio que tudo arrasta, se diz violento, mas nao se diz violenta as margens que o oprimem (Brecht). “
Mais compaixao galera!
Ta faltando respeito e compaixao!
Eh uma era de intolerancias. Eu abomino a homofobia e acredito sinceramente no amor! Mas odiar o povo cristao e colocar todos nos num saco so, eh tao burro quanto ser homofobico.
As piadas que circulam no FB alimentam estereotipos negativos sobre cristaos:
Todo crente e’ ladrao, ou burro, ou ignorante, ou bitolado ou analfabeto, sem senso critico etc
Tem do gente! Isso eh preconceito!
Nao quero acreditar que a gente va combater preconceito com preconceito
Pelo amor de Deus. Esse pais tem sim pastores mal intencionados, ladroes e corruptos, mas gente assim tambem tem no Cadomble, no Kardecismo (quem nao lembra do amigo de Chico Xavier que estava cobrando lugar na fila, sem que o medium soubesse), tambem tem no Congresso Nacional, e nas ONGs? AAAAAHHH as Santas Ongs...ta cheinho de picareta, INGs (individuos nao governamentais) e ate ONGs aparentemente serias, lavando dinheiro, desviando verba.
Ser sacana e ladrao nao eh privilegio desta ou daquela religiao e nem mesmo de direita ou esquerda..tai o mensalao do PT e a privataria tucana do PSDB pra mostrar que desonestidade nao escolhe sexo, religiao e nem ideologia.
Tratar os pastores evangelicos como uma gente sem escrupulos eh adentrar em uma generalizacao muito perigosa.
A maioria dos pastores que eu conheco, da um ralo danado.
Conheci um pastor que era da area de saude que abandonou o consultorio para desenvolver um projeto social nas palafitas. Desviava de tiro de traficante pra ir na favela levar comida e alfabetizar, vendia tortas que a esposa fazia pelas ruas, para sustentar a familia, com duas meninas pequenas. Estava longe de ser um anjo de candura. Era durao, foi um dos que implicou com meu jeito pa virada de ser, mas tem meu respeito profundo.
Nas Filipinas conheci pastores que viviam com um salario infimo. Atuavam junto a uma congregacao miseravel e ganahavam pouco mais do que um salario minimo brasileiro para estar ali sujeitos a todo tipo de provacao (todo tipo mesmo! Tufao, terremoto, terrorismo, etc) na Indonesia, um pastor saiu “catando” criancas abandonadas na rua e levou todas pra casa dele. Hoje ele tem mais de dez filhos. Todos estudados, felizes e amados. Em Sao Paulo mesmo ha um casal que adotou 16 filhos. Um deles era marginal e espancou o pai que o adotou e o desafiou: Agora pode me devolver tambem...e o cara disse: Eu nao posso devolver um filho!
Ah gente, me desculpa, mas isso nao e’ pra qualquer um... o tio da minha amiga, levava pra casa prostitutas e travestis doentes e abandonados. PRA CASA DELE!!! Voce levaria?!!
Hoje moram com ele mais de uma de dezena de pessoas que ja nao passam mais fome, violencia ou desamor.
Isso e’ pouco para voce?
O povo de Deus (que segue a Deus de verdade, eh um povo do bem, cheio de amor, de vontade de fazer o bem (embora as vezes faca o mal, afinal todos nos somos apenas seres em construcao) e muita vontade de ajudar.
Eh por isso que faco aqui minha milionesima profissao de fe...(de fe torta mas persistente). Eu que brigo tanto com essa igreja, que detesto tanto como ela se comporta em tantos momentos, que ja sofri tantas decepcoes e desprezos, podia encontrar nesse momento, o momento exato para pular do barco..Facil, facil, mas muito covarde.
Eu sigo crendo em um Deus de misericordia, que nos criou a todos, e que nos ama, embora as vezes perca as estribeiras e mande diluvios e vulcao para “controle demografico de gente do mal “ rs.
Eu amo esse Deus que  na minha fe, enviou um filho de coracao tao afavel que escolheu nasceu nosso irmao e nao nosso chefe. Esse ser humano tao doce, porem tao forte. Que acolhia as criancas e acoitava os vendilhoes. Esse cara feminista, revolucionario, que chutou o pau da barraca e fez servos e senhores caminharem lado a lado.
Sou apaixonada por esse Jesus e a Ele eu entrego minha paixao por fadas, minha arrogancia, minha cervejinha, meu “fogo no rabo” e tudo que me faz eu, porque eu sei que ele me ama apesar de mim.
Voce pode ate duvidar que esse cara seja o filho de Deus, mas voce nao pode negar o legado que esse homem deixou a humanidade.
Ah Senhor, perdoa-me por ser tao inconsistente, contraditoria e infiel, e perdoa tambem a tua igreja por ser tao arrogante e sem tato. Ajuda-nos a amar sem reservas, e a lutar por um mundo mais justo.Infelizmente, movimentos como a teologia da prosperidade e outras correntes teologicas norte-americanas e super capitalistas, tem destruido verdadeiro sentido do evangelho, que eh simples e bom, transformando- num espetaculo grotesco de neo capitalismo espiritual, mas nao podemos generalizar. Embora enfrentemos essa praga neoliberal dentro das nossas igrejas, ainda temos muita gente do bem tentando acertar. Eh verdade que ha lobos em pele de cordeiro, mas ha muito, muito muito mais cordeiros do que lobo.
A maioria dos pastores vive na pindaiba, e a maioria das igrejas tem mesmo que fazer noite da pizza para pagar o aluguel e a conta de luz no fim do mes.
Que eu seja uma dessas pessoas malucas. Que minha port anunca se feche ao desolado e que eu nao me canse de amor o ferrado, o abandonado e o desprezado. Que eu lute por essas minorias em todas as instancias que eu puder, porque o Deus que eu creio, me fez assim desse jeito.
Fico aqui pensando...a maioria dos fieis rala um bocado para conseguir manter a igreja de pe...para a galera que trabalha em ONG, isso e’ tao diferente assim? Voces sabem como eh dificil manter as portas abertas em tempo de crise.
O Brasil tambem ta cheio de ONGs que nadam em grana, que tem financiamento internacional, e so’ Deus sabe de que maneira algumas delas aplicam o dinheiro mas ninguem faz piada com isso. Eh politicamente incorreto ne? Mas de crente pode... nos somos a bola da vez...
Todo mundo tira sarro do dizimo do crente, mas ninguem comenta que partido politico cobra 20% ao inves dos dez que o crente da, ne?
Eu fico muito triste de ver pessoas serias e comprometidas com as causas da luz, gente batalhadora e de bom coracao sendo humilhada por sua fe, por causa de uns e outros que sequer nos representam. Eu mesma, por pior crista que seja, nao mereco essas piadinhas infames que circulam por ai, e que geralmente sao postadas por companheiros que apregoam aos 4 ventos o respeito a diversidade.
Eh aquela coisa de que todos sao iguais, mas uns sao mais iguais dos que os outros...
Nao pode, gente, quem ja foi discriminado, nao pode discriminar.
A “igreja” fez por merecer? Talvez...mas de que igreja estamos falando ? da igreja do pastor Feliciano ou do Silas Malafaia? E por um acaso eles sao A igreja desde quando?
Ha falhas e excessos sim, mas nao vejo como combater fogo com fogo  possa ajudar a promover o respeito a diversidade. Esse preconceito e odio aos crentes tem levantado uma onda de bullying e assedio moral muito ruim e  o mundo nao precisa desse tipo de coisa. Ao inves de matar as ovelhas todas, vamos expor o lobo e salvar as ovelhas .
Gente como o Tonico Pereira e a poderosa Fernando Montenegro foram geniais ao protestar contra o Feliciano beijando colegas do mesmo sexo na boca.
Foi uma provocacao arretada, mas ainda assim foi amor. Ninguem precisou agredir ninguem.
Amor pra todo mundo! Chega de intolerancia, seja do lado de la ou do lado de ca.
“Uma pessoa boa quer amor, uma pessoa ma’ quer amor. Quer amor de verdade.
Todo mundo quer amor, todo mundo quer amor de verdade” (titas)



ps Mais um post sem correcoes..Tenho que postar assim mesmo, sem revisar, senao perco a coragem de publicar...seja o que Deus quiser..deem um desconto para as 4 da manha e pro teclado sem acentos... :)


segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Amor que brota da dor

Fiquei com muito orgulho da nossa presidenta. Chorar junto na hora triste foi muito mais de mãe e de mulher, do que qualquer outra coisa, e saber que ela não perdeu esse instinto, esse principio, me levou a amá-la como a uma irmã. Estamos todos no mesmo barco. Nada é mais revolucionário e transformador do que a solidariedade infinita pela dor alheia. Quando nosso amor por um desconhecido nos inunda de forma a querer salva-lo, socorrê-lo e ampará-lo, então eu vejo que chegamos naquele ponto glorioso da existência, em que finalmente deixamos de ser indivíduos para nos tornarmos UM individuo coletivo. Uma única raça, uma mesma espécie humana.
Tive serias decepções com a Dilma em muitas frentes de seu governo. Às vezes me questionava onde teria ido parar a Dilma guerrilheira, mas hoje ao ver a grandeza dela ao entrar naquele ginásio repleto de corpos e ao emprestar solidariedade incondicional aos familiares das vitimas pessoalmente, então eu me re-apaixonei por essa mulher, que ignorou reuniões e encontros com lideranças do mundo afora, simplesmente para chorar seus mortos junto com o seu povo. Isso foi de uma grandeza poderosa!
Choremos nossos mortos Brasil e que seja também simbólico pelo choro por tantos outros jovens que tombaram por ai, vitimas da estupidez humana. Que essa tragédia sirva ao menos para resgatar o nosso senso de união, aguçar nosso senso de justiça e multiplicar de norte a sul um verdadeiro cântico de compaixão.
Senti vontade de voltar, de estar ai e abraçar cada mãe!
Fiquei com vontade de lutar ainda um pouco mais por um mundo onde "a força da grana não possa erguer e destruir coisas belas". (Caetano)
Uma tragédia evitável. Uma desgraça horrorosa, mas que ainda seja possível extrair alguma luminosidade de tudo isso. Algum sentimento grandioso que alquimicamente transforme dor em luz.
Estou aqui a pensar que foi preciso uma tragédia desse porte para unir esse povo por algo que não fosse futebol, big brother ou novela.
Não aliviando em nada para os responsáveis por essa tragédia, que devem ser punidos rigorosamente, quero crer que ainda temos algo a aprender com tanta dor.
Hoje nos levantamos como uma nação!
Enlutados sim, mas com a dignidade de quem não foge a luta.
Recuperamos o senso de pátria? De irmandade com nossos conterrâneos?
Então que essa dor esfregue o porão das nossas almas e limpe todo descaso e egoísmo.
Hoje somos todos pais, mães e amigos daqueles jovens. E esse amor brotado da dor nos tornou a todos irmãos.
Que isso, ao menos isso, faça a morte desses jovens menos vã..."

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Hora de discutir a relação


É a primeira vez que vou me pronunciar sobre o PT e a crise.

Não sei se demorei a fazê-lo mas não podia mais evitar o assunto.
A maioria das pessoas com as quais convivo sabe que venho de uma formação de esquerda e que desde a mais tenra idade mantive-me engajada em diversas causas sociais como direitos das mulheres, Ecologia, justiça social, pacifismo e empoderamento Juvenil. Muitas dessas bandeiras eu trabalhei junto ao PT, por muitos e muitos anos.
Entrei para a militância política, com pouco mais de 11 anos de idade, em parte por ser fruto desse meio e em parte por ter um coração indomável, inconformado com as misérias da vida.
Durante muito tempo eu acreditava na revolução política como única alternativa para transformações sociais de grande porte e achava que através da militância partidária realizaríamos nosso sonho de ver um Brasil melhor.
Aos 14 anos, meus olhos marejavam quando ouvia tocar  “ a bandeira do meu partido, é vermelha de um sonho antigo, cor da hora em que se levanta, levanta agora, levanta a aurora”.

Pois bem, a bandeira do “meu” partido tem se tornado mais pálida a cada dia. Digo “meu” entre aspas, porque sempre fui libertária demais, aquariana demais para ir mais longe do que apoiar as causas nas quais acredito, e por isso, embora fosse conhecida por muitos anos como a Fabiana do PT, eu nunca fui filiada nem a esse nem a partido algum.
A bandeira do meu partido começou a perder o seu brilho lá no início de seus governos federais quando começou a trair a causa ambientalista.

Sou uma mulher disciplinada e treinada para aceitar direções tomadas pelo partido mesmo quando não concordasse com elas, mas isso desde que essas decisões não afetassem meus princípios, e as muitas traições relacionadas às questões ambientais iniciaram um processo meu de mergulho interior muito profundo. Desde esse momento eu me recolhi a um certo estado de discrição, não fiz mais campanhas públicas, não pedi mais votos, não militei mais na causa partidária, só nas humanas. Mais adiante vi com grande frustração muitas outras burradas na área de saúde, educação, questões de gênero e direitos humanos, mas errar é humano e eu não esperava um governo perfeito , então tentava lidar positivamente com esses desapontamentos. Eu até tentei relevar quando alguns casos isolados de corrupção começaram a pipocar por aí, eles eram casos isolados e poderiam acontecer a qualquer partido, já que a corrupção é inerente aos seres humanos e não às siglas, mas puxa vida, agora as coisas foram longe demais!
Não me sinto confortável justificando o comportamento horroroso de alguns supostos “companheiros” com o péssimo comportamento daqueles que se envolveram com a privataria tucana. Primeiro de tudo, porque nós sempre nos autoproclamamos os diferentes, os éticos, os de moral ilibada. Então esse papo de "eles também fizeram" parece no mínimo coisa de criança no primário, eu furei o olho dele, mas ele também furou o olho do outro.
Não é desculpa, não é justificativa! Eu devia ter uns dez anos de idade quando aprendi com a minha professora de História. Um erro não justifica o outro.
Também não acho justo o tratamento dado à imprensa. Deus sabe que às vezes eu tenho vergonha de dizer que eu sou jornalista. Concordo que revistas como a VEJA não só são um verdadeiro lixo editorial como são ainda daninhas, nocivas, mentirosas e de rabo preso com o que há de pior por aí, mas hoje, até veículos sérios como a Carta Capital (que sempre apoiaram o Lula e os governos petistas) estão cobrando uma postura mais séria por parte da direção do partido.
Eu não quero crer que estejamos nos tornando uma militância burra e sem capacidade crítica, e o pior, sem capacidade de autocrítica! É muito triste que não usemos esse momento para uma reflexão interna de tudo que está se passando.
Há exageros? Sim, estamos todos lançados na vala comum.

É a caça as bruxas que condena à fogueira pessoas ilibadas, simplesmente porque elas estão debaixo de uma mesma sigla que algumas outras que são corruptas, mas também é o momento para limpar, tirar do partido o que não presta, pedir desculpas, sanar a ferida e fazer algo!

Me perdoem, mas ficar nesse processo ridículo de autocomiseração, transformando réus em mártires e justificando um monte de gente que traiu a nossa bandeira, isso não dá.
Nós também fomos traídos! Não foi apenas a sociedade. Nós petistas também fomos traídos por gente que não merecia estar sob a luz da nossa estrela.
Nós a militância honesta, limpa, que ralou sem ganhar nada, que dedicou literalmente sangue, suor e lagrimas para construir esse partido, temos o direito a (no mínimo) uma  explicação.
Eu não vou levantar aqui para fazer a defesa cega de gente sem compromisso com causa nenhuma, só porque eles estão fazendo uso de uma sigla na qual eu investi quase toda a minha vida.
Bíblia debaixo do braço não faz ninguém cristão, camiseta do greenpeace não faz ninguém ambientalista e ficha de filiação não faz ninguém socialista. (e muito menos honesto).
Meu compromisso é com o povo que sempre amei, com o meu país, com os meus verdadeiros companheiros de luta e acima de tudo, com a verdade.
 
Precisamos lembrar que a música, a bandeira do meu partido que tanto cantamos ao longo da nossa trajetória política, termina com a seguinte frase: "Mas a bandeira do meu partido, vem entrelaçada com outra bandeira, a mais bela, a primeira, verde-amarela, a bandeira brasileira!"
(e se não for assim, eu não quero!)
 
Ps: Sim, eu quero a CPI da Privataria Tucana e quero tucanos ladrões na cadeia, mas eu também quero ladrões petistas na cadeia e todo e qualquer tipo de parasita que tire do nosso povo  o que ele já tem de tão pouco. E recadinho para turma de direita: O Erasmo Dias não tinha razão de nada. Esse homem, (se é que podemos chamar uma abominação daquelas de homem.) era um ser desprezível, assassino e torturador . Andei lendo por aí que ele tinha uma razão quase profética de dizer que todos aqueles militantes que lutaram contra a ditadura estavam desde o princípio movidos por sentimentos de interesse pessoal e não por ideologia. Certamente quem fala esse tipo de besteira não tem a menor noção do que é tomar choques nos testículos ou ter o filho arrancado de seu ventre ou os mamilos arrancados com alicates. Não sabem o que é perder a família, a vida e a liberdade.
Pra quem repassa esse tipo de mensagem só uma pergunta: Você é um direitista convicto ou só um inocente útil mesmo? Não misturemos as coisas sim? O fato de algumas pessoas estarem envolvidas com coisas erradas não dá o direito de ninguém lançar na vala o nome de milhares de militantes decentes que foram torturados, mutilados, privados de liberdade (e muitos, da vida) para que você pudesse, entre outras coisas, ter essa liberdade que tem, até para postar essas suas bobagens no Facebook ok? Muita gente lutou e luta por um mundo melhor e a maioria dessas pessoas não ganha absolutamente nada com isso, exceto o amor e a liberdade, o que pra mim, parece riqueza grande o suficiente (emobora para outros tantos pareca que não). Jogar a água suja fora com o bebê dentro é no mínimo uma estupidez.
 

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Kasihan, Compaixão, Compassion


Acabando de assistir o filme o grande milagre, fiquei com uma sensação estranha, quase mágica. Um gosto agridoce na boca. A história das três baleias que ficaram presas no gelo do Alaska deixou a minha cabeça cheia de pensamentos espirais. Um deles é a certeza de que a compaixão é a força mais poderosa que existe nesse mundo. Não há nada que se compare a compaixão. Nada mais incrivelmente potente em toda a face dessa terra. Pensei também no esfcelamento do amor, que vem exatamente na contrapartida da compaixão. No filme, as baleias que estão encurraladas num buraco de gelo não saem do lado de seu filhote até o último minuto. O casal de baleias fica junto ao seu filhote e faz de td para salvá-lo. A certa altura o salvamento está ali para elas, mas o filhote está fraco demais para seguir. Então elas ficam ali junto ao filhote num esforço sem par, para salvá-lo, o que não acontece. Ao fazer isso elas próprias correm risco de vida, mas ainda assim não desistiram. Fiquei pensando nas nossas crianças do bodeh. O orfanato mais sem coração que já vi na vida. A maioria daquelas crianças são órfãos de pais vivos.
Estão ali porque foram abandonadas. Ou por sua situação física como a patrícia que nao tem uma parte da perna e tem alguns dos dedos deformados (provavelmente ainda consequência dos produtos lançados sobre o Vietnam durante a guerra), tem a paloma que é surda e cega e tem outras que não apresentam problema físico algum, mas foram crianças indesejadas por um motivo ou por outro.
As baleias não foram capazes de abandonar seu filho, mas esses seres humanos foram capazes de largar seus bebês em estações de trem, na porta da pagoda ou na estação rodoviária...
Voltando ao filme, observei como a espiral de compaixâo tragou a todos para dentro do seu poderoso amor.
Muitos decidiram salvar as baleias por propositos exclusivamente publicitários, por vaidade pessoal, interesse comercial ou marketing político, mas o fato é que a compaixão ali gerada, promoveu uma qualidade de energia infinitamente superior ao que se imaginava no início de todo processo.
Independente das motivações pessoais de cada um, o bem foi realizado, o milagre surgiu por conta disso.
Outro dia li no Facebook que caridade que se mostra, não é caridade, é vaidade. Pois eu não sou tão purista assim, o bem que se faz não se perde, e a vaidade se esvanece ante ao poder do amor. Quem me dera toda vaidade humana se refletisse em ações públicas de caridade, ao invés de guerra, competições, consumismos, ganancias e maldades. Eu não estou aqui pra julgar as intenções dos corações mas para amá-los e partilhar com eles o exercício incansável e infindável da compaixão.
Naime Silva, pensei em voce o filme inteiro ♥
Você sente saudade de um tempo que ainda virá...e virá, sim, virá!

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Fada

Pela escuridão da floresta sozinha
A única brecha de luz que existe
Repousa na ponta das minhas asas


sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Para Miguel

Há alguns anos atrás me despedi de você com o poema ausência, de Vinicius de Moraes.
Eu te escrevi: “Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida”.
Seguimos amigos, prosseguimos irmãos, e tua amizade para mim sempre foi força e proteção com a qual eu poderia contar.
Devo a você alguns dos melhores e mais gratos momentos da minha vida.
Há tanto para lembrar... O que teria sido mais doce?
Dançar Enya na beira da praia em plena madrugada? Ficar horas ouvindo a trilha sonora de Cinema Paradiso em silencio absoluto, trocando apenas sorriso olhar e tantos outros gestos nobres que só um grande amigo, um irmão como você poderia ofertar?
Convencer-me a trocar filosofia por jornalismo e me ligar um dia antes da publicação em A Tribuna para me contar em primeira mão que eu ia ser sua colega? Dançar comigo a valsa da formatura quando por engano o Mestre de cerimonia chamou meu nome no ano em que não pude me formar? Assistir as minhas apresentações de dança e meus espetáculos sentando na primeira fila e aplaudindo espalhafatoso chamando meu nome e assobiando? rs ou contar meus segredos pra você, as minhas contradições e encontrar em você carinho ao invés da reprovação usual das outras pessoas? Dar risada das suas graças, como no primeiro dia de aula em que você deixou uma câmera de vídeo em frente à secretaria da FACOS, gravando as reações mais esdruxulas possíveis dos estudantes que iam lá fazer sua matricula e ao final do dia e muitos micos depois, você concluir... É incrível o que as pessoas fazem quando pensam que estão em frente a uma câmera ligada (e mostrou que a câmera não estava gravando nada, era só uma experiência “antropológica e psicossocial do comportamento humano” rs
Lembro-me de você na ocupação da reitoria, paizão de todo mundo, irmão mais velho, amigo, conselheiro. Lembro de você em tantos lugares que não cabem nesse breve espaço de falar. Lembro ainda de uma conversa que fiquei te devendo e nunca paguei, e claro, não esqueço e não esquecerei cada riso meu roubado por você.
Se você soubesse o quanto aprendi da vida contigo o quanto mudei da minha vida por seus amorosos conselhos. Se você soubesse tanta coisa... Será que chegando aí no céu Deus vai te contar tudo? Será que você vai ficar sabendo que sua enfermidade reaproximou os afastados, reuniu os distantes e estreitou laços entre gente que nem se conhecia?
Tudo porque oramos, vibramos e torcemos por você. Porque tínhamos em comum amizade, carinho e admiração por ti. E porque ter pudor em dizer? Todo amor!
Tudo porque te amávamos, querido amigo, e essa passagem para esse mundo novo aí que você está descortinando, não pode mudar isso. É só um intervalo até a nossa próxima aventura lado a lado.
Nós os teus amigos, esperamos o dia em que sentaremos à mesa juntos novamente para mais uma cerveja, um trago e um abraço. Esperaremos ansiosos pela próxima gargalhada juntos, mas até lá, permita-nos chorar um pouco, porque como dizia o poema de Vinicius que um dia te enviei: “E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas. Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada." 

domingo, 22 de julho de 2012

Dia do amigo. A data já nos deixa mais sentimentais né?
Principalmente nós que estamos longe dos muitos de nossos amigos e familiares. Daí eu entro no meu Facebook e vejo que estou marcada numa foto postada por uma amiga muito querida, a Alessandra Calil.
Abri a foto e vi que era uma daquelas com diversas qualidades: Alguém com quem posso contar, alguém que adoro provocar, dona da gargalhada da minha vida e por aí vai... Daí vc coloca a marca da pessoa em cima daquilo que a pessoa significa pra você. A primeira coisa que me passou pela cabeça foi: Se eu tivesse que marcar a Alê, certamente seria em: Alguém que mudou a minha vida!
Eu amo muito a Alessandra, tenho muito carinho e respeito por ela, mas acima de tudo eu tenho gratidão profunda por tudo que ela fez por mim.
Eu sempre fui uma pessoa pra cima, engraçada, com uma personalidade super exuberante. Crise de adolescência? Não sei do que se trata. Se eu tive uma infância péssima, a minha adolescência foi a melhor do mundo! No entanto, como diz o nome do livro de auto-ajuda, mulheres inteligentes, escolhas insensatas. O único desconto a ser dado para essa fase da minha vida é de que eu tinha apenas 18 anos e estava passando por uma fase muito difícil na minha vida familiar. E assim fiquei refém de um namorado que me reduziu ao pó.
Ele decidia desde o que eu ia vestir até que tipo de programa íamos fazer no fim de semana.
O cara era um mané. E eu gostei muito dele. Ele tinha qualidades incríveis e uma alma que podia ser muito iluminada, não fosse por sua insegurança e egolatria, que rapidamente transformaram o moço angelical num anjo caído.
Ele nao regulava minhas roupas por ciúme. Ele dizia que eu era gorda e por isso nao podia me mostrar.
Alguém aí que me conhece ha muito tempo, pode por favor me dizer em que momento da minha vida eu fui gorda?!!! Oi?! Ninguém responde?
Pois é. Eu nuuuuuunca nunquinha da silva fui gorda.
Mas por causa dele eu me sentia gorda. E feia. E fraca!
Eu tinha que usar calça jeans larga com camiseta larga até o joelho.
E eu tinha que ficar abaixo das suas opiniões, das sua posições e me permiti ser o capacho de um cara que nao merecia nem um sorriso meu.
Lá pelas tantas da relação, o infeliz resolveu me pedir um tempo. Ele na verdade fazia isso constantemente, ele nunca sabia se eu era boa o suficiente pra ele, então ele tinha que meditar sobre se valia a pena torrar o precioso tempo dele comigo.
A essas alturas, a criança solitária e assustada da minha infância havia voltado com força total. Todos os bullyings da minha infância pareciam refresco ante ao assédio moral desse rapaz.
Não sei porque na vida às vezes a gente se submete a situações tão ridículas, mas eu passei maus bocados nas mãos desse rapaz.
Ele vivia pedindo pra gente dar tempo. Não sei se ele me achava com cara de relógio, mas vivia questionando se eu era mesmo a garota que ele queria, se ele devia perder a juventude do meu lado e outras pérolas do tipo. Numa dessas vezes eu finalmente concordei em "conceder" o tempo solicitado. Naquela mesma época, a universidade em que eu estudava estava fervilhando de atividades estudantis, que culminaram numa famosa "ocupação"da reitoria, que durou vários dias.
Nós levamos barracas, colchonetes, sacos de dormir e cobertores e acampamos na reitoria da universidade como forma de protesto ao preços absurdos praticados pela Universidade Católica.
Esse movimento não foi só um ato político de grandes proporções, mas também um momento marcante na vida de muitas pessoas que ali se encontraram. Esse momento marcou a vida de muitos de nós para sempre, assim como alguns desses encontros mudaram o rumo da história de muitas vidas, incluindo a minha.
Eu encontrei a Alessandra lá no meio da bagunça. Ela era linda, super popular, engraçada, bem vestida etc etc etc. Já eu,  a essa altura, era só uma sombra pálida do que já havia sido um dia. Entrei na  ocupação por convicções políticas e ideológicas, porque sob o prisma da militância social, amor sempre havia ficado mesmo num plano mais rebaixado. Eu estava mal, triste, pra baixo, mas tinha um senso de responsabilidade comunitária que me dizia que eu tinha que estar lá em meio a todo aquele processo revolucionário pós ditadura.
Uma coisa puxou a outra. Em poucos dias eu ja estava de novo iluminada. Feliz. Ativa. Participativa.
Estava rodeada de velhos amigos, e como se não bastasse, estava descobrindo um mundão de amigos novos e queridos.
Mas às vezes a sensação de sombra voltava. Meu namorado, que nem estudante universitário era, decidiu se mudar para a reitoria também.
Não por nenhuma convicção nobre, mas porque ali havia uma concentração de pessoas interessantes, música, cerveja e boemia. Em menos de um dia ele apareceu lá com a MINHA barraca de camping. Eu tinha que ficar assistindo o moço cortejando toda piriguete que aparecesse no pedaço e fingir que ela não era meu namorado. Vale esclarecer que o tempo era para uma suposta reflexão sobre a relação e não para arejar de mim experimentando "carne nova". Mas ele fazia questão de me fazer sentir um lixo cada vez que passava por mim, e eu fui tentando ficar cada vez mais longe dele para nao me machucar ainda mais. Quando ele percebeu que meus laços estavam afroxando, começou então a ficar por perto.
Eu e a Alessandra nos identificamos muito rápido. Integramos o grupo que liderava a maioria das ações. Isso ia desde a organização logistíca da ocupação até o preparo de festas, músicas, celebrações e piadas coletivas.
Só de estar perto dela eu já me sentia mais encorajada. Daí uma vez, numa das nossas rodas de violão, eu estava sentada do lado dela, rindo e ouvindo música quando meu "namorado" (não sou boazinha de poupar o nome do babaca?rs) sentou na roda e falou em voz alta: senta direito! fecha essa perna que esse shorts tá muito curto!
A Alessandra na hora respondeu: Como é que é?!!
Você tá mandando nela?
Fabi? Você conhece esse mané?
E eu só meneei a cabeça...
De onde???? - Ela perguntou chocada
E eu com um fio de voz...- Ele é meu namorado...
Pausa pra cara de chocada que ela e a torcida do flamengo fizeram naquele momento...
Todo mundo olhou pra mim como se eu tivesse dito que namorava o curupira...rs
Mas ela não se fez de rogada, olhou pra ele e respondeu na lata: Escuta aqui ô Tam Tam! Ela veste o que quiser. Ela é bonita, divertida e está cercada de amigos. Não se mete na vida dela não, entendeu?
Eu não sei expressar o conforto que senti, de que pela primeira vez em meses alguém finalmente calou a boca daquele cara. Em tese eu deveria ser a pessoa a fazer isso, mas já havia muito tempo que eu não tinha forças nem pra responder as coisas que ele me dizia.
Tivemos uma longa conversa sobre tudo o que eu estava passando. Abri o jogo e contei até das agressões verbais e esporadicamente quase físicas as quais ele me submetia. Disse que não aguentava mais, mas que não sabia mais quem eu era e que também não sabia mais como recomeçar sozinha, porque meu convívio com ele me afastou até dos meus amigos.
Depois desse dia, a Alessandra decidiu que ia cuidar de mim. Devolver a minha vida e me "salvar " do mau namorado. Ela não mediu esforços pra isso. Seu tratamento incluia desde cortar minhas saias para que ficassem curtas o bastante para que eu não parecesse uma "crente". Até aulas de maquiagem, dicas sobre perfumes, cabelos, auto-estima.
Finalmente, depois de anos desejando, eu fiquei ruiva. Desfiei o cabelo na altura dos ombros e subi num salto alto.
Alguns anos antes, eu teria considerado tudo isso como meras futilidades, mas a essa altura do campeonato eu precisava MUITO arrancar a Fabi exuberante de dentro de mim. Mas não era só isso, ela me convenceu a mudar de curso na faculdade porque eu estava muito infeliz no meu. Por causa dela e de outros amigos da reitoria eu mudei do curso de Filosofia para o curso de Jornalismo.
Eu lembro de estar muito tensa esperando o resultado sair no jornal, e ela ligando pra minha casa com o Miguel Netto e o Renato Pirauá no telefone, gritando feito louca: Você passou! Você passou!
A Alê me apresentou novos amigos, e juntas fizemos tantos outros...tão queridos.
Ela grudou em mim lá na reitoria e não me deixou desanimar ou ficar triste. No último dia da ocupação eu finalmente desmanchei meu namoro e já saí de lá de namorado novo. Quando eu e esse novo amor nos ferimos, ela estava lá de novo para me abraçar.
Minha última barreira era a auto-estima detonada. A essa altura eu já estava super bem. Bonita, bem tratada, sexy e aparentemente super confiante, mas lá no fundo eu tinha medo de ser só um "holograma" e não uma mulher real.
Assim que entrei na Facos a Alê e os outros membros da atlética me chamaram para ser a miss Facos na disputa pelo título de rainha dos jogos nos JOGOS DA UNISANTA. Claro que eu nao aceitei! Mas quem disse que a Alessandra aceita um não como resposta?
Um dia fui com ela na Unisanta para tratar algo dos jogos e ela me apresentou para a Rosa Navas: - Rosa, gostaria de te apresentar a miss Facos!
Oi???? - eu disse! rs Como assim?
Resumindo a ópera, a Alessandra "me fez " desfilar de maiô num ginásio com mais de de 3000 pessoas, de batom, salto alto e ... fio dental (sem meia tá ?). Público de jogos é uma coisa meio complicada né? Um bando de macho grosseiro (perdão pela generalização) torcendo pelo seu próprio time ( no caso faculdade). Gritaria, corneta, e eu tremendo feito bambu!
Uma das moças da FATEC, que de fato era muito feinha, tadinha, foi vaiada e ganhou chuva de papelzinho.
Eu tive dor de barriga...pensei: Em mim vão tacar ovo....pânico total!!!
Antes de entrar com meu traje de jogadora de futebol (pode rir se não me conhece, e se conhece pode rir mais ainda! rs) o coreógrafo que ensaio nossas evoluções em cena dizia: Solta a pantera dentro de vc! E eu só pensava: Eu quero sumir!!!
Subi no palco, caminhei, nao tropecei, nao cai, ninguém me xingou, até ouvi uns: Gostosa! Gata! e ri muito muito com a narração brega do locutor falando sobre meus hobbies e atividades... - Ela gosta de dança! Artes plásticas! Política! kkkkkk
Gente, um mês antes eu era um bicho do mato acuado e triste, e agora eu estava ali pondo meus medos a proa e descobrindo que tudo era uma grande besteira.
Fiquei muito amiga de muitas das misses, dei muita risada dessa história que vou ter quee contar para os netos, mas acima de tudo, experimentei uma qualidade de amor que vem do mundo das fadas. A Alessandra foi minha fada madrinha, e ela não me salvou de um namorado besta, ela me salvou de mim mesma, porque como se diz por aí, se alguém te machuca da primeira vez, a culpa é da pessoa, mas se te machuca a segunda, então a culpa é sua. Aquele cara ja tinha me machucado mais de dez, então a culpa era minha. Só que depois desse resgate de alma, eu mudei muito. Muito mesmo. Minha vida deu uma guinada de 360 graus.
Convivemos por bastante tempo. Fomos cúmplices uma da outra em situações diversas. Dividimos de segredos a fila de emprego.
Ela cuidou do meu coração como poucas pessoas seriam capazes de fazer. Volta e meia, seu namorado da época entrava na minha sala de aula (ele estudava no fim do meu corredor) e me trazia uma nhá benta com um cartãozinho: Adoro você!
Até hoje, quando alguém do Brasil vem me visitar aqui na Conchinchina (e isso é literal, porque a conchinchina fica no vietnam) eu peço pra me trazer uma nhá benta. Acho que junto com o sabor do chocolate e da maciez do marshmallow, a nhá benta traz embutida um sentimento de conforto quase espiritual, uma lembrança de amor que alenta o coração.
A Alessandra ventilou minha vida com um perfume de amor muito bonito, mas a vida real vem com suas obrigações, jornadas de trabalho, estágios, prazos e fomos naturalmente nos afastando. Ela decidiu fazer outra faculdade e eu comecei a trabalhar de dia, estudar de noite e ensaiar dança nos fins de semana. Difícil né?
Crescemos e nos distanciamos, casamos, mudamos, enfim...
Já se passaram cerca de 15 anos desde a última vez que nos vimos pessoalmente. Nunca mais nos encontramos sequer para um chá ou café, mas eu adoro a Alê e quase morri de emoção quando vi que eu estava na mensagem dela de dia do amigo. Pode parecer pouco,mas olha só, a mensagem falava para fulano, ciclano, beltrano e muitos outros. Eu não estava entre os muitos outros. Eu tinha nome e sobrenome.
Quinze anos depois eu ainda fazia parte daquele seleto grupo de pessoas as quais a gente não se esquece.
Fiquei super ansiosa para saber em que categoria ela havia me incluído naquela foto: Alguém que não esqueço? Alguém que me fez rir? Alguém de quem tenho saudades? Então meus olhos param diante do inesperado. Meus lábios tremem e as lágrimas escorrem pelas minhas bochechas enquanto eu leio letra por letra:
Alguém que mudou a minha vida!