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terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Hora de discutir a relação


É a primeira vez que vou me pronunciar sobre o PT e a crise.

Não sei se demorei a fazê-lo mas não podia mais evitar o assunto.
A maioria das pessoas com as quais convivo sabe que venho de uma formação de esquerda e que desde a mais tenra idade mantive-me engajada em diversas causas sociais como direitos das mulheres, Ecologia, justiça social, pacifismo e empoderamento Juvenil. Muitas dessas bandeiras eu trabalhei junto ao PT, por muitos e muitos anos.
Entrei para a militância política, com pouco mais de 11 anos de idade, em parte por ser fruto desse meio e em parte por ter um coração indomável, inconformado com as misérias da vida.
Durante muito tempo eu acreditava na revolução política como única alternativa para transformações sociais de grande porte e achava que através da militância partidária realizaríamos nosso sonho de ver um Brasil melhor.
Aos 14 anos, meus olhos marejavam quando ouvia tocar  “ a bandeira do meu partido, é vermelha de um sonho antigo, cor da hora em que se levanta, levanta agora, levanta a aurora”.

Pois bem, a bandeira do “meu” partido tem se tornado mais pálida a cada dia. Digo “meu” entre aspas, porque sempre fui libertária demais, aquariana demais para ir mais longe do que apoiar as causas nas quais acredito, e por isso, embora fosse conhecida por muitos anos como a Fabiana do PT, eu nunca fui filiada nem a esse nem a partido algum.
A bandeira do meu partido começou a perder o seu brilho lá no início de seus governos federais quando começou a trair a causa ambientalista.

Sou uma mulher disciplinada e treinada para aceitar direções tomadas pelo partido mesmo quando não concordasse com elas, mas isso desde que essas decisões não afetassem meus princípios, e as muitas traições relacionadas às questões ambientais iniciaram um processo meu de mergulho interior muito profundo. Desde esse momento eu me recolhi a um certo estado de discrição, não fiz mais campanhas públicas, não pedi mais votos, não militei mais na causa partidária, só nas humanas. Mais adiante vi com grande frustração muitas outras burradas na área de saúde, educação, questões de gênero e direitos humanos, mas errar é humano e eu não esperava um governo perfeito , então tentava lidar positivamente com esses desapontamentos. Eu até tentei relevar quando alguns casos isolados de corrupção começaram a pipocar por aí, eles eram casos isolados e poderiam acontecer a qualquer partido, já que a corrupção é inerente aos seres humanos e não às siglas, mas puxa vida, agora as coisas foram longe demais!
Não me sinto confortável justificando o comportamento horroroso de alguns supostos “companheiros” com o péssimo comportamento daqueles que se envolveram com a privataria tucana. Primeiro de tudo, porque nós sempre nos autoproclamamos os diferentes, os éticos, os de moral ilibada. Então esse papo de "eles também fizeram" parece no mínimo coisa de criança no primário, eu furei o olho dele, mas ele também furou o olho do outro.
Não é desculpa, não é justificativa! Eu devia ter uns dez anos de idade quando aprendi com a minha professora de História. Um erro não justifica o outro.
Também não acho justo o tratamento dado à imprensa. Deus sabe que às vezes eu tenho vergonha de dizer que eu sou jornalista. Concordo que revistas como a VEJA não só são um verdadeiro lixo editorial como são ainda daninhas, nocivas, mentirosas e de rabo preso com o que há de pior por aí, mas hoje, até veículos sérios como a Carta Capital (que sempre apoiaram o Lula e os governos petistas) estão cobrando uma postura mais séria por parte da direção do partido.
Eu não quero crer que estejamos nos tornando uma militância burra e sem capacidade crítica, e o pior, sem capacidade de autocrítica! É muito triste que não usemos esse momento para uma reflexão interna de tudo que está se passando.
Há exageros? Sim, estamos todos lançados na vala comum.

É a caça as bruxas que condena à fogueira pessoas ilibadas, simplesmente porque elas estão debaixo de uma mesma sigla que algumas outras que são corruptas, mas também é o momento para limpar, tirar do partido o que não presta, pedir desculpas, sanar a ferida e fazer algo!

Me perdoem, mas ficar nesse processo ridículo de autocomiseração, transformando réus em mártires e justificando um monte de gente que traiu a nossa bandeira, isso não dá.
Nós também fomos traídos! Não foi apenas a sociedade. Nós petistas também fomos traídos por gente que não merecia estar sob a luz da nossa estrela.
Nós a militância honesta, limpa, que ralou sem ganhar nada, que dedicou literalmente sangue, suor e lagrimas para construir esse partido, temos o direito a (no mínimo) uma  explicação.
Eu não vou levantar aqui para fazer a defesa cega de gente sem compromisso com causa nenhuma, só porque eles estão fazendo uso de uma sigla na qual eu investi quase toda a minha vida.
Bíblia debaixo do braço não faz ninguém cristão, camiseta do greenpeace não faz ninguém ambientalista e ficha de filiação não faz ninguém socialista. (e muito menos honesto).
Meu compromisso é com o povo que sempre amei, com o meu país, com os meus verdadeiros companheiros de luta e acima de tudo, com a verdade.
 
Precisamos lembrar que a música, a bandeira do meu partido que tanto cantamos ao longo da nossa trajetória política, termina com a seguinte frase: "Mas a bandeira do meu partido, vem entrelaçada com outra bandeira, a mais bela, a primeira, verde-amarela, a bandeira brasileira!"
(e se não for assim, eu não quero!)
 
Ps: Sim, eu quero a CPI da Privataria Tucana e quero tucanos ladrões na cadeia, mas eu também quero ladrões petistas na cadeia e todo e qualquer tipo de parasita que tire do nosso povo  o que ele já tem de tão pouco. E recadinho para turma de direita: O Erasmo Dias não tinha razão de nada. Esse homem, (se é que podemos chamar uma abominação daquelas de homem.) era um ser desprezível, assassino e torturador . Andei lendo por aí que ele tinha uma razão quase profética de dizer que todos aqueles militantes que lutaram contra a ditadura estavam desde o princípio movidos por sentimentos de interesse pessoal e não por ideologia. Certamente quem fala esse tipo de besteira não tem a menor noção do que é tomar choques nos testículos ou ter o filho arrancado de seu ventre ou os mamilos arrancados com alicates. Não sabem o que é perder a família, a vida e a liberdade.
Pra quem repassa esse tipo de mensagem só uma pergunta: Você é um direitista convicto ou só um inocente útil mesmo? Não misturemos as coisas sim? O fato de algumas pessoas estarem envolvidas com coisas erradas não dá o direito de ninguém lançar na vala o nome de milhares de militantes decentes que foram torturados, mutilados, privados de liberdade (e muitos, da vida) para que você pudesse, entre outras coisas, ter essa liberdade que tem, até para postar essas suas bobagens no Facebook ok? Muita gente lutou e luta por um mundo melhor e a maioria dessas pessoas não ganha absolutamente nada com isso, exceto o amor e a liberdade, o que pra mim, parece riqueza grande o suficiente (emobora para outros tantos pareca que não). Jogar a água suja fora com o bebê dentro é no mínimo uma estupidez.
 

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Kasihan, Compaixão, Compassion


Acabando de assistir o filme o grande milagre, fiquei com uma sensação estranha, quase mágica. Um gosto agridoce na boca. A história das três baleias que ficaram presas no gelo do Alaska deixou a minha cabeça cheia de pensamentos espirais. Um deles é a certeza de que a compaixão é a força mais poderosa que existe nesse mundo. Não há nada que se compare a compaixão. Nada mais incrivelmente potente em toda a face dessa terra. Pensei também no esfcelamento do amor, que vem exatamente na contrapartida da compaixão. No filme, as baleias que estão encurraladas num buraco de gelo não saem do lado de seu filhote até o último minuto. O casal de baleias fica junto ao seu filhote e faz de td para salvá-lo. A certa altura o salvamento está ali para elas, mas o filhote está fraco demais para seguir. Então elas ficam ali junto ao filhote num esforço sem par, para salvá-lo, o que não acontece. Ao fazer isso elas próprias correm risco de vida, mas ainda assim não desistiram. Fiquei pensando nas nossas crianças do bodeh. O orfanato mais sem coração que já vi na vida. A maioria daquelas crianças são órfãos de pais vivos.
Estão ali porque foram abandonadas. Ou por sua situação física como a patrícia que nao tem uma parte da perna e tem alguns dos dedos deformados (provavelmente ainda consequência dos produtos lançados sobre o Vietnam durante a guerra), tem a paloma que é surda e cega e tem outras que não apresentam problema físico algum, mas foram crianças indesejadas por um motivo ou por outro.
As baleias não foram capazes de abandonar seu filho, mas esses seres humanos foram capazes de largar seus bebês em estações de trem, na porta da pagoda ou na estação rodoviária...
Voltando ao filme, observei como a espiral de compaixâo tragou a todos para dentro do seu poderoso amor.
Muitos decidiram salvar as baleias por propositos exclusivamente publicitários, por vaidade pessoal, interesse comercial ou marketing político, mas o fato é que a compaixão ali gerada, promoveu uma qualidade de energia infinitamente superior ao que se imaginava no início de todo processo.
Independente das motivações pessoais de cada um, o bem foi realizado, o milagre surgiu por conta disso.
Outro dia li no Facebook que caridade que se mostra, não é caridade, é vaidade. Pois eu não sou tão purista assim, o bem que se faz não se perde, e a vaidade se esvanece ante ao poder do amor. Quem me dera toda vaidade humana se refletisse em ações públicas de caridade, ao invés de guerra, competições, consumismos, ganancias e maldades. Eu não estou aqui pra julgar as intenções dos corações mas para amá-los e partilhar com eles o exercício incansável e infindável da compaixão.
Naime Silva, pensei em voce o filme inteiro ♥
Você sente saudade de um tempo que ainda virá...e virá, sim, virá!

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Fada

Pela escuridão da floresta sozinha
A única brecha de luz que existe
Repousa na ponta das minhas asas


sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Para Miguel

Há alguns anos atrás me despedi de você com o poema ausência, de Vinicius de Moraes.
Eu te escrevi: “Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida”.
Seguimos amigos, prosseguimos irmãos, e tua amizade para mim sempre foi força e proteção com a qual eu poderia contar.
Devo a você alguns dos melhores e mais gratos momentos da minha vida.
Há tanto para lembrar... O que teria sido mais doce?
Dançar Enya na beira da praia em plena madrugada? Ficar horas ouvindo a trilha sonora de Cinema Paradiso em silencio absoluto, trocando apenas sorriso olhar e tantos outros gestos nobres que só um grande amigo, um irmão como você poderia ofertar?
Convencer-me a trocar filosofia por jornalismo e me ligar um dia antes da publicação em A Tribuna para me contar em primeira mão que eu ia ser sua colega? Dançar comigo a valsa da formatura quando por engano o Mestre de cerimonia chamou meu nome no ano em que não pude me formar? Assistir as minhas apresentações de dança e meus espetáculos sentando na primeira fila e aplaudindo espalhafatoso chamando meu nome e assobiando? rs ou contar meus segredos pra você, as minhas contradições e encontrar em você carinho ao invés da reprovação usual das outras pessoas? Dar risada das suas graças, como no primeiro dia de aula em que você deixou uma câmera de vídeo em frente à secretaria da FACOS, gravando as reações mais esdruxulas possíveis dos estudantes que iam lá fazer sua matricula e ao final do dia e muitos micos depois, você concluir... É incrível o que as pessoas fazem quando pensam que estão em frente a uma câmera ligada (e mostrou que a câmera não estava gravando nada, era só uma experiência “antropológica e psicossocial do comportamento humano” rs
Lembro-me de você na ocupação da reitoria, paizão de todo mundo, irmão mais velho, amigo, conselheiro. Lembro de você em tantos lugares que não cabem nesse breve espaço de falar. Lembro ainda de uma conversa que fiquei te devendo e nunca paguei, e claro, não esqueço e não esquecerei cada riso meu roubado por você.
Se você soubesse o quanto aprendi da vida contigo o quanto mudei da minha vida por seus amorosos conselhos. Se você soubesse tanta coisa... Será que chegando aí no céu Deus vai te contar tudo? Será que você vai ficar sabendo que sua enfermidade reaproximou os afastados, reuniu os distantes e estreitou laços entre gente que nem se conhecia?
Tudo porque oramos, vibramos e torcemos por você. Porque tínhamos em comum amizade, carinho e admiração por ti. E porque ter pudor em dizer? Todo amor!
Tudo porque te amávamos, querido amigo, e essa passagem para esse mundo novo aí que você está descortinando, não pode mudar isso. É só um intervalo até a nossa próxima aventura lado a lado.
Nós os teus amigos, esperamos o dia em que sentaremos à mesa juntos novamente para mais uma cerveja, um trago e um abraço. Esperaremos ansiosos pela próxima gargalhada juntos, mas até lá, permita-nos chorar um pouco, porque como dizia o poema de Vinicius que um dia te enviei: “E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas. Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada." 

domingo, 22 de julho de 2012

Dia do amigo. A data já nos deixa mais sentimentais né?
Principalmente nós que estamos longe dos muitos de nossos amigos e familiares. Daí eu entro no meu Facebook e vejo que estou marcada numa foto postada por uma amiga muito querida, a Alessandra Calil.
Abri a foto e vi que era uma daquelas com diversas qualidades: Alguém com quem posso contar, alguém que adoro provocar, dona da gargalhada da minha vida e por aí vai... Daí vc coloca a marca da pessoa em cima daquilo que a pessoa significa pra você. A primeira coisa que me passou pela cabeça foi: Se eu tivesse que marcar a Alê, certamente seria em: Alguém que mudou a minha vida!
Eu amo muito a Alessandra, tenho muito carinho e respeito por ela, mas acima de tudo eu tenho gratidão profunda por tudo que ela fez por mim.
Eu sempre fui uma pessoa pra cima, engraçada, com uma personalidade super exuberante. Crise de adolescência? Não sei do que se trata. Se eu tive uma infância péssima, a minha adolescência foi a melhor do mundo! No entanto, como diz o nome do livro de auto-ajuda, mulheres inteligentes, escolhas insensatas. O único desconto a ser dado para essa fase da minha vida é de que eu tinha apenas 18 anos e estava passando por uma fase muito difícil na minha vida familiar. E assim fiquei refém de um namorado que me reduziu ao pó.
Ele decidia desde o que eu ia vestir até que tipo de programa íamos fazer no fim de semana.
O cara era um mané. E eu gostei muito dele. Ele tinha qualidades incríveis e uma alma que podia ser muito iluminada, não fosse por sua insegurança e egolatria, que rapidamente transformaram o moço angelical num anjo caído.
Ele nao regulava minhas roupas por ciúme. Ele dizia que eu era gorda e por isso nao podia me mostrar.
Alguém aí que me conhece ha muito tempo, pode por favor me dizer em que momento da minha vida eu fui gorda?!!! Oi?! Ninguém responde?
Pois é. Eu nuuuuuunca nunquinha da silva fui gorda.
Mas por causa dele eu me sentia gorda. E feia. E fraca!
Eu tinha que usar calça jeans larga com camiseta larga até o joelho.
E eu tinha que ficar abaixo das suas opiniões, das sua posições e me permiti ser o capacho de um cara que nao merecia nem um sorriso meu.
Lá pelas tantas da relação, o infeliz resolveu me pedir um tempo. Ele na verdade fazia isso constantemente, ele nunca sabia se eu era boa o suficiente pra ele, então ele tinha que meditar sobre se valia a pena torrar o precioso tempo dele comigo.
A essas alturas, a criança solitária e assustada da minha infância havia voltado com força total. Todos os bullyings da minha infância pareciam refresco ante ao assédio moral desse rapaz.
Não sei porque na vida às vezes a gente se submete a situações tão ridículas, mas eu passei maus bocados nas mãos desse rapaz.
Ele vivia pedindo pra gente dar tempo. Não sei se ele me achava com cara de relógio, mas vivia questionando se eu era mesmo a garota que ele queria, se ele devia perder a juventude do meu lado e outras pérolas do tipo. Numa dessas vezes eu finalmente concordei em "conceder" o tempo solicitado. Naquela mesma época, a universidade em que eu estudava estava fervilhando de atividades estudantis, que culminaram numa famosa "ocupação"da reitoria, que durou vários dias.
Nós levamos barracas, colchonetes, sacos de dormir e cobertores e acampamos na reitoria da universidade como forma de protesto ao preços absurdos praticados pela Universidade Católica.
Esse movimento não foi só um ato político de grandes proporções, mas também um momento marcante na vida de muitas pessoas que ali se encontraram. Esse momento marcou a vida de muitos de nós para sempre, assim como alguns desses encontros mudaram o rumo da história de muitas vidas, incluindo a minha.
Eu encontrei a Alessandra lá no meio da bagunça. Ela era linda, super popular, engraçada, bem vestida etc etc etc. Já eu,  a essa altura, era só uma sombra pálida do que já havia sido um dia. Entrei na  ocupação por convicções políticas e ideológicas, porque sob o prisma da militância social, amor sempre havia ficado mesmo num plano mais rebaixado. Eu estava mal, triste, pra baixo, mas tinha um senso de responsabilidade comunitária que me dizia que eu tinha que estar lá em meio a todo aquele processo revolucionário pós ditadura.
Uma coisa puxou a outra. Em poucos dias eu ja estava de novo iluminada. Feliz. Ativa. Participativa.
Estava rodeada de velhos amigos, e como se não bastasse, estava descobrindo um mundão de amigos novos e queridos.
Mas às vezes a sensação de sombra voltava. Meu namorado, que nem estudante universitário era, decidiu se mudar para a reitoria também.
Não por nenhuma convicção nobre, mas porque ali havia uma concentração de pessoas interessantes, música, cerveja e boemia. Em menos de um dia ele apareceu lá com a MINHA barraca de camping. Eu tinha que ficar assistindo o moço cortejando toda piriguete que aparecesse no pedaço e fingir que ela não era meu namorado. Vale esclarecer que o tempo era para uma suposta reflexão sobre a relação e não para arejar de mim experimentando "carne nova". Mas ele fazia questão de me fazer sentir um lixo cada vez que passava por mim, e eu fui tentando ficar cada vez mais longe dele para nao me machucar ainda mais. Quando ele percebeu que meus laços estavam afroxando, começou então a ficar por perto.
Eu e a Alessandra nos identificamos muito rápido. Integramos o grupo que liderava a maioria das ações. Isso ia desde a organização logistíca da ocupação até o preparo de festas, músicas, celebrações e piadas coletivas.
Só de estar perto dela eu já me sentia mais encorajada. Daí uma vez, numa das nossas rodas de violão, eu estava sentada do lado dela, rindo e ouvindo música quando meu "namorado" (não sou boazinha de poupar o nome do babaca?rs) sentou na roda e falou em voz alta: senta direito! fecha essa perna que esse shorts tá muito curto!
A Alessandra na hora respondeu: Como é que é?!!
Você tá mandando nela?
Fabi? Você conhece esse mané?
E eu só meneei a cabeça...
De onde???? - Ela perguntou chocada
E eu com um fio de voz...- Ele é meu namorado...
Pausa pra cara de chocada que ela e a torcida do flamengo fizeram naquele momento...
Todo mundo olhou pra mim como se eu tivesse dito que namorava o curupira...rs
Mas ela não se fez de rogada, olhou pra ele e respondeu na lata: Escuta aqui ô Tam Tam! Ela veste o que quiser. Ela é bonita, divertida e está cercada de amigos. Não se mete na vida dela não, entendeu?
Eu não sei expressar o conforto que senti, de que pela primeira vez em meses alguém finalmente calou a boca daquele cara. Em tese eu deveria ser a pessoa a fazer isso, mas já havia muito tempo que eu não tinha forças nem pra responder as coisas que ele me dizia.
Tivemos uma longa conversa sobre tudo o que eu estava passando. Abri o jogo e contei até das agressões verbais e esporadicamente quase físicas as quais ele me submetia. Disse que não aguentava mais, mas que não sabia mais quem eu era e que também não sabia mais como recomeçar sozinha, porque meu convívio com ele me afastou até dos meus amigos.
Depois desse dia, a Alessandra decidiu que ia cuidar de mim. Devolver a minha vida e me "salvar " do mau namorado. Ela não mediu esforços pra isso. Seu tratamento incluia desde cortar minhas saias para que ficassem curtas o bastante para que eu não parecesse uma "crente". Até aulas de maquiagem, dicas sobre perfumes, cabelos, auto-estima.
Finalmente, depois de anos desejando, eu fiquei ruiva. Desfiei o cabelo na altura dos ombros e subi num salto alto.
Alguns anos antes, eu teria considerado tudo isso como meras futilidades, mas a essa altura do campeonato eu precisava MUITO arrancar a Fabi exuberante de dentro de mim. Mas não era só isso, ela me convenceu a mudar de curso na faculdade porque eu estava muito infeliz no meu. Por causa dela e de outros amigos da reitoria eu mudei do curso de Filosofia para o curso de Jornalismo.
Eu lembro de estar muito tensa esperando o resultado sair no jornal, e ela ligando pra minha casa com o Miguel Netto e o Renato Pirauá no telefone, gritando feito louca: Você passou! Você passou!
A Alê me apresentou novos amigos, e juntas fizemos tantos outros...tão queridos.
Ela grudou em mim lá na reitoria e não me deixou desanimar ou ficar triste. No último dia da ocupação eu finalmente desmanchei meu namoro e já saí de lá de namorado novo. Quando eu e esse novo amor nos ferimos, ela estava lá de novo para me abraçar.
Minha última barreira era a auto-estima detonada. A essa altura eu já estava super bem. Bonita, bem tratada, sexy e aparentemente super confiante, mas lá no fundo eu tinha medo de ser só um "holograma" e não uma mulher real.
Assim que entrei na Facos a Alê e os outros membros da atlética me chamaram para ser a miss Facos na disputa pelo título de rainha dos jogos nos JOGOS DA UNISANTA. Claro que eu nao aceitei! Mas quem disse que a Alessandra aceita um não como resposta?
Um dia fui com ela na Unisanta para tratar algo dos jogos e ela me apresentou para a Rosa Navas: - Rosa, gostaria de te apresentar a miss Facos!
Oi???? - eu disse! rs Como assim?
Resumindo a ópera, a Alessandra "me fez " desfilar de maiô num ginásio com mais de de 3000 pessoas, de batom, salto alto e ... fio dental (sem meia tá ?). Público de jogos é uma coisa meio complicada né? Um bando de macho grosseiro (perdão pela generalização) torcendo pelo seu próprio time ( no caso faculdade). Gritaria, corneta, e eu tremendo feito bambu!
Uma das moças da FATEC, que de fato era muito feinha, tadinha, foi vaiada e ganhou chuva de papelzinho.
Eu tive dor de barriga...pensei: Em mim vão tacar ovo....pânico total!!!
Antes de entrar com meu traje de jogadora de futebol (pode rir se não me conhece, e se conhece pode rir mais ainda! rs) o coreógrafo que ensaio nossas evoluções em cena dizia: Solta a pantera dentro de vc! E eu só pensava: Eu quero sumir!!!
Subi no palco, caminhei, nao tropecei, nao cai, ninguém me xingou, até ouvi uns: Gostosa! Gata! e ri muito muito com a narração brega do locutor falando sobre meus hobbies e atividades... - Ela gosta de dança! Artes plásticas! Política! kkkkkk
Gente, um mês antes eu era um bicho do mato acuado e triste, e agora eu estava ali pondo meus medos a proa e descobrindo que tudo era uma grande besteira.
Fiquei muito amiga de muitas das misses, dei muita risada dessa história que vou ter quee contar para os netos, mas acima de tudo, experimentei uma qualidade de amor que vem do mundo das fadas. A Alessandra foi minha fada madrinha, e ela não me salvou de um namorado besta, ela me salvou de mim mesma, porque como se diz por aí, se alguém te machuca da primeira vez, a culpa é da pessoa, mas se te machuca a segunda, então a culpa é sua. Aquele cara ja tinha me machucado mais de dez, então a culpa era minha. Só que depois desse resgate de alma, eu mudei muito. Muito mesmo. Minha vida deu uma guinada de 360 graus.
Convivemos por bastante tempo. Fomos cúmplices uma da outra em situações diversas. Dividimos de segredos a fila de emprego.
Ela cuidou do meu coração como poucas pessoas seriam capazes de fazer. Volta e meia, seu namorado da época entrava na minha sala de aula (ele estudava no fim do meu corredor) e me trazia uma nhá benta com um cartãozinho: Adoro você!
Até hoje, quando alguém do Brasil vem me visitar aqui na Conchinchina (e isso é literal, porque a conchinchina fica no vietnam) eu peço pra me trazer uma nhá benta. Acho que junto com o sabor do chocolate e da maciez do marshmallow, a nhá benta traz embutida um sentimento de conforto quase espiritual, uma lembrança de amor que alenta o coração.
A Alessandra ventilou minha vida com um perfume de amor muito bonito, mas a vida real vem com suas obrigações, jornadas de trabalho, estágios, prazos e fomos naturalmente nos afastando. Ela decidiu fazer outra faculdade e eu comecei a trabalhar de dia, estudar de noite e ensaiar dança nos fins de semana. Difícil né?
Crescemos e nos distanciamos, casamos, mudamos, enfim...
Já se passaram cerca de 15 anos desde a última vez que nos vimos pessoalmente. Nunca mais nos encontramos sequer para um chá ou café, mas eu adoro a Alê e quase morri de emoção quando vi que eu estava na mensagem dela de dia do amigo. Pode parecer pouco,mas olha só, a mensagem falava para fulano, ciclano, beltrano e muitos outros. Eu não estava entre os muitos outros. Eu tinha nome e sobrenome.
Quinze anos depois eu ainda fazia parte daquele seleto grupo de pessoas as quais a gente não se esquece.
Fiquei super ansiosa para saber em que categoria ela havia me incluído naquela foto: Alguém que não esqueço? Alguém que me fez rir? Alguém de quem tenho saudades? Então meus olhos param diante do inesperado. Meus lábios tremem e as lágrimas escorrem pelas minhas bochechas enquanto eu leio letra por letra:
Alguém que mudou a minha vida!

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Sobre ser alguém...

Eu sempre soube que seria alguém na vida!
Desde minha tenra idade, lutando contra as tragédias da minha infância, a ditadura que me afastou dos meus pais, o bullyng sofrido na escola por ser magrela, feia, sem família e fora de moda, os muitos problemas de saúde, a solidão, o medo de andar na rua e ser levada embora por algum militar à paisana...
Eu sempre soube que seria alguém, mesmo quando na escola me julgavam a mais completa perdedora, que nao sabia nem jogar queimada, mas ficava ali no canto lendo livros e mais livros que nao interessavam a ninguém mais.
Eu também soube que seria alguém na vida quando optei trocar o inglês por francês, simplesmente porque eu gostava de Ives Montand e Jaqcues Brel e apesar de todos os conselhos de que eu precisaria do inglês para vencer na vida ( e eu precisei mesmo! E foi extremamente difícil reconhecer que meu ausente inglês e meu fraco francês não me levariam de fato a nenhum lugar pretensamente útil na vida).
Eu soube que seria alguém quando as crianças se juntaram para me jogar minhocas e mais minhocas dentro da minha roupa porque eu era esquisita e merecia entender que nao fazia parte daquele grupo.
Eu sabia de alguma forma que tudo isso passaria e que na verdade ao longo da vida, nada disso teria importância alguma, porque eu nao tinha raiva nem mágoa de ninguém. Era uma dor transitória. Passaria.
Talvez por tantos livros que permearam a minha infância eu tenha tido a oportunidade de tatuar na alma o protótipo da heroína sofredora que sempre vence.
Eu me via na jovem moça que encontrava uma pobre mulher na beira do lago e a oferecia água, recebendo então da fada disfarçada o dom de despejar flores e pérolas a cada vez que seus lábios pronunciassem uma palavra qualquer.
Eu sentia que poderia ser essa moça e que através de uma bondade quase interesseira eu introjetava a idéia de que tudo ficaria bem se eu simplesmente fosse boa e amasse tudo ao meu redor.
Eu me transformei numa personagem quase caricata de mim mesma. Uma princesa torta, que cantava para os animais, abraçava as árvores, sorria para estranhos na rua, parava para conversar com moradores de rua e brincava com aqueles com os quais ninguem queria brincar.
Minha casa virou um albergue de bichos e um abrigo de gente "desamada", neologismo meu.
Todos os "não-queridos" passaram a ser os mais queridos meus e a uma certa altura, quando até os mais populares da escola passaram por momentos difíceis na vida eu também estive lá. E abracei, e agasalhei, porque eu sabia que popularidade, beleza e dinheiro eram muito transitórios. Os contos de fada haviam me ensinado isso! :) Muitos dos que me jogaram insetos ou derramaram refrigerantes sobre a minha cabeça são hoje amigos queridos. A infância passou, o bullyng, a solidão e o medo passaram também, mas esses amigos ficaram e ficarão para sempre!
Eu sempre soube que seria alguém! Eu sempre soube que seria alguém que ama!

terça-feira, 19 de junho de 2012

Melancolia

"É melhor ser alegre que ser triste"  dizia o poeta Vinícius, mas ele também dizia que "uma mulher tem que ter qualquer coisa além de beleza, qualquer coisa de triste, qualquer coisa que chora, qualquer coisa que sente saudade, um molejo de amor machucado, uma beleza que vem da tristeza...
Aos amigos, não se preocupem em me consolar ou edificar com frases bíblicas ou de efeito.
Um pouco de tristeza deve fazer bem..um pouco de melancolia e saudade. Nada assim muito ácido para dissolver o verniz da alma, mas algo agridoce algo que areje a alegria infinita de pessoas assim, otimistas patólogicos como eu.
O exercício da alegria é tão diário que a gente chega a se convencer, mas essa tristeza não é nada em especial. É só a saudade de casa, o desejo de um gosto de doce que aqui não. O desejo de caminhar pelas praias de Santos, a cidade mais linda do mundo pra mim.
Some-se aí também a saudade dos meus amigos, dos meus amores que viraram amigos, dos meus parceiros de trabalho e militância e da vontade de comer bolo de abacaxi com doce de leite da doceria do Marapé.
Não é uma tristeza profunda, é só uma dorzinha chata ali no lado esquerdo do peito. Tristeza que a gente tenta espantar cantando Lô Borges : " Sonhei que era tempo de encontrar amigos, falar de um velho tempo morto que passou depresa..."